Departamento Jurídico 4.0 e as novas tecnologias
É com enorme satisfação que abrimos a coluna Legal & Business, um espaço pensado junto ao time do JOTA com o objetivo de ser uma fonte de informação confiável e voltada ao mundo dos advogados corporativos que, de alguma forma, desempenham o papel de executivos jurídicos para grandes, médias e pequenas empresas.
Apesar das duas décadas que separam nossas formaturas, dividimos a mesma paixão pelos desafios da gestão em departamentos jurídicos, traduzidos na arte de influenciar a maneira como empresas conduzem seus negócios, enfrentam riscos e constroem suas trajetórias. Ao contrário dos nossos colegas em escritórios de advocacia, partilhamos nosso dia a dia com engenheiros, economistas, contadores, administradores, gestores de recursos humanos, jornalistas, profissionais de marketing e tecnologia em um mundo sui generis. Embora não sejamos maioria, não somos poucos.
O “Mapa de Empresas”, ferramenta virtual do governo federal, aponta cerca de 17,7 milhões de empresas ativas no Brasil. Deste total, 3,5 milhões[1] de empresas certamente possuem um departamento jurídico ou são assistidas por advogados empresariais, internos ou não. Estes números reforçam nossa responsabilidade em promover o jurídico como um time garantidor da cultura legal, do Compliance e da adequação às leis em vigor sem tornar-se sinônimo de demoras, atrasos ou engessamento de novas iniciativas.
Aqui compartilharemos, ao lado de ilustres colegas, conteúdos voltados a soft skills (o perfil comportamental, relacional, de liderança e gestão), modelo business partner (jurídico e business unidos para gerar valor às organizações e criar grandes oportunidades de negócio), diversidade e inclusão (jurídico como garantidor da representatividade legal e da responsabilidade social das empresas), novas tendências do direito (Sandbox Regulatório, Proteção de Dados e ESG), corporate venture (cases de sucesso envolvendo empresas e startups) e tecnologia (as melhores ferramentas e práticas para ajudar nas metas, como inteligência artificial e de negócios, blockchain, big data, legal operations e ALSPs).
Evidentemente, não se trata de conteúdo exclusivo para advogados internos e corporativos. Boa parte dos insights trazidos nesta coluna serão úteis para advogados de escritórios. Se são eles que muitas vezes dominam complexas áreas de expertise, técnica processual, elaboram pareceres e auxiliam na tomada de decisão junto às áreas de negócio em “prazos de recorde olímpico”, por que não refletir em conjunto sobre como transformar o direito? Advogados internos e externos unidos em um único propósito?
Neste primeiro artigo, começaremos com uma provocação: estaríamos nós resignados em aceitar passivamente uma profissão que precisa (e muito) ser revisitada?
Logo nas primeiras páginas do livro “O Advogado do Amanhã”, Richard Susskind[2] traz a célebre frase de John F. Kennedy:
“Meu chamado é para os jovens de espírito, independentemente da idade”.
A frase é mencionada no trecho em que o autor aponta que pensar no futuro não deve ser tarefa apenas daqueles que estão iniciando na profissão, mas também daqueles que querem deixar um legado. O desafio colocado por esse livro incrível, que trata das profundas mudanças que estão acontecendo no campo dos serviços jurídicos, provoca desconfortos e reflexões.
A verdade é que muito se fala sobre o advogado 4.0, mas não o suficiente. Os próximos 10 anos irão testemunhar mais mudanças na profissão jurídica do que qualquer outro período na história.
Já é possível observar que a jornada que se desenha será permanentemente impactada pelo uso da tecnologia, desde a automação das tarefas mais cotidianas ao uso de inteligência artificial nas atividades mais estratégicas, passando pela imersão na análise de dados e a consequente proteção aos titulares destes. E, diante destes fatos, nos questionamos: qual é o legado que podemos deixar?
Em primeiro lugar, precisamos estar sintonizados com a disrupção trazida pelas novas tecnologias em todos os segmentos da economia. É vital compreender minimamente essas inovações para sermos capazes de orientar os negócios impactados por elas.
Em segundo lugar, o jurídico corporativo precisa reinventar-se a si próprio, ultrapassando a barreira da reflexão e plantando a mudança de maneira propositiva. Para construir um legado nas empresas, na economia nacional e global, temos que enfrentar com coragem o desafio de adequar também nossas operações e atividades às novas maneiras de fazer mais por menos.
Como na música “Man in the mirror”, de Michael Jackson, a mudança começa com a pessoa que vemos no espelho. Neste artigo introdutório, convidamos você líder, executivo, gerente ou profissional de departamento jurídico a responder às seguintes questões:
- Quanto do seu tempo você tem dedicado a aprender sobre novas tecnologias e seu impacto nas funções de seu departamento?
- Quanto você tem se dedicado a proporcionar ao seu time as ferramentas e treinamentos necessários para melhor prepará-los para essa nova realidade?
- De que maneira você pode como atuar como um catalisador dessa transformação, construindo o seu legado para a próxima década?
Essas perguntas não são apenas para jovens advogados. Afinal, nas palavras de Susskind, todos aqueles que não pretendem se aposentar hoje são advogados do amanhã.
Esperamos que vocês possam juntar-se a nós nesta jornada quinzenal aqui, no JOTA, na missão de discutir, construir e desenvolver visões, crenças, pensamentos e, por fim, comportamentos daqueles que, como nós, escolheram trilhar suas carreiras nos jurídicos de empresas.
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[1] O número exato é 3.540.089. Para chegarmos neste dado, acessamos o Mapa de Empresas do Governo Digital e fizemos o filtro de “Visão Geral”. A ferramenta nos apontou que são 3.496.192 milhões de matrizes de empresas constituídas como sociedade limitada e cerca de 43.897 empresas sob a natureza de sociedade anônima. O filtro foi feito na ferramenta no dia 19/06/2021.
[2] Professor, palestrante e o mais citado autor sobre o futuro dos serviços jurídicos. Sugerimos conhecer sua obra, através de seu site https://www.susskind.com/.